História incrível

Pelotense de Israel vem rever a família

Vítima do tráfico de bebês na década de 80, Ron Yehezkel desembarcou esta semana em Pelotas, com o filho e a esposa, para reencontrar a irmã

São milhares de pessoas que passam diariamente pela Estação Rodoviária de Pelotas, algumas indo, outras chegando, algumas felizes, outras tristes. Cada uma tem a sua história e, feliz ou infelizmente, daí vai da opinião do leitor. No ônibus da Embaixador que chegou às 15h da última quinta-feira oriundo de Porto Alegre estava o israelense Ron Yehezkel, 34, que em 2013 descobriu ser filho de mãe pelotense. Na primeira visita à cidade, a esposa, Hila, ficou grávida. Agora na segunda, o objetivo é apresentar ao filho, Yuval, cada canto do município - principalmente a casa da família.

O ônibus havia saído de Porto Alegre às 11h30min e desde então a tensão tomou conta do peito de Thatyana, irmã do israelense que descobriu ter sido traficado para o outro lado do mundo ainda bebê. Após aparecer em quadro da novela Salve Jorge, da TV Globo, que mostrava crianças que haviam passado por tal situação, ficou sabendo que uma moça, no Sul do Sul, acreditava ser sua irmã. “Nos falamos sempre duas vezes ao dia, a expectativa é muito grande”, diz, sem tirar os olhos do box em que o veículo poderia chegar - vai que estivesse adiantado e a distância sumisse alguns minutos antes.

Carro estacionado, muita gente dentro dele, até que enxergou o irmão lá dentro, ao que acenou e foi retribuída. Daí foi só esperar e talvez tenha parecido demorar tanto ou mais do que os dois anos em que os dois estiveram separados. No abraço ao sobrinho, nenhum estranhamento do menino, mesmo após tão longa viagem. “É emocionante. Toda a infância que eu não vi o Ron, agora vejo o Yuval”, comenta.

Do lado de lá do planeta a situação não era diferente: muita ansiedade desde que as passagens foram compradas, três meses atrás. “Falávamos todos os dias sobre a viagem, contávamos os dias juntos. Chegando aqui foi como se eu tivesse borboletas em meu estômago”, conta Ron Yehezkel. A sensação na segunda vez, ele diz, é bem diferente da primeira, quando havia nervosismo, apreensão e uma grande página a ser escrita. “Dessa vez eu já conheço a cidade e sei exatamente o que esperar”, diz, e deixa claro: ficar com a irmã, apresentar Pelotas ao filho. “É isso”, completa, e vão os quatro para casa.

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